Por Dra Carolina Ferraz
Apresentado em sessão plenária da ASCO 2021 no último final de semana, o estudo JUPITER-02 avaliou a eficácia da droga toripalimabe, um imunoterápico antiPD-1 , associado a quimioterapia padrão na primeira linha de tratamento do carcinoma nasofaríngeo recorrente, localmente avançado ou metastático.
Carcinoma nasofaríngeo é um subtipo de câncer de cabeça e pescoço, endêmico do sudeste e leste da China e Ásia, com dados de incidência de 3,0 por 100000 pessoas na China para 1,2 a cada 100000 a nível global. Os pacientes com esta neoplasia metastática ou após recorrência tem desfechos desanimadores e apresentam limitadas opções terapêuticas. No cenário atual o carcinoma de nasofaringe avançado ou recorrente mantém como padrão de tratamento o protocolo de quimioterapia citotóxica baseada em cisplatina e gemcitabina com dados de duração de resposta média inferiores a 06 meses.
O estudo apresentado trata-se de um fase III, randomizado, duplo cego, placebo-controlado, multicêntrico, que randomizou pacientes (1: 1) sem tratamento prévio para realizar toripalimabe 240 mg em combinação com gemcitabina 1000 mg/m² D1 e D8 e cisplatina 80 mg/m² no D1 versus placebo em combinação com regime semelhante de quimioterapia a cada 03 semanas por até 06 ciclos , seguidos por manutenção com toripalimabe ou placebo a cada 03 semanas até progressão de doença , toxicidade limitante ou término de tratamento após 02 anos.
O endpoint primário foi sobrevida livre de progressão (SLP) e os desfechos secundários incluíram taxa de resposta global (ORR), duração de resposta (DOR) e sobrevida global (SG).
Foram recrutados 289 pacientes e distribuídos de forma equiparada entre os dois braços analisados, na análise interina realizada em 30 de maio de 2020, a mediana de duração de resposta foi de 39 meses para toripalimabe versus 36 meses no grupo placebo. A SLP foi estatisticamente significativa no braço da imunoterapia com mediana de 11,7 versus 08 meses em favor do toripalimabe. Após 01 ano 49% dos pacientes que utilizaram toripalimabe permaneciam sem progressão de doença em comparação com 28% dos que fizeram uso de placebo associado a quimioterapia padrão.
Nas análises exploratórias todos os subgrupo de PD-L1 se beneficiaram da imunoterapia. A taxa de resposta objetiva foi de 77,4% versus 66,4% para o grupo placebo, mediana de duração de resposta de 10 versus 5,7 meses. Em janeiro de 2021 os dados de sobrevida global eram ainda imaturos e não haviam sido apresentados.
O perfil de toxicidade grau 03 permaneceu semelhante entre os braços 89 % versus 89,5% para placebo, 7,5 % dos pacientes da imunoterapia descontinuaram o tratamento e 4,9% do braço placebo. Eventos fatais foram relatados de forma semelhante entre os grupos, 2,7% versus 2,8%.
Estes resultados positivos com uso da imunoterapia Toripalimabe marcam uma importante esperança nas terapias de carcinoma de nasofaríngeo em fases avançadas (III e IV), que apesar de uma doença rara no cenário nacional costuma atingir pacientes jovens e até o momento tem tratamentos com desfechos ruins e desafiadores. Em fevereiro de 2021 a droga foi aprovada para uso na China após falha a pelo menos duas linhas de terapias sistêmicas prévias com base no estudo de fase II POLARIS-02.
Futuras apresentações são aguardadas com expectativa para avaliar dados de sobrevida global e qualidade de vida e possivelmete consolidar essa incorporação a prática médica atual.
Graduada em medicina pela Universidade Federal de Pernambuco, Residência em Clínica Médica no Hospital Getúlio Vargas (Recife-PE). Residência em Oncologia Clínica no Real Hospital Português de Beneficência (Recife-PE), Oncologista do Real Instituto de Oncologia e preceptora da residência de Oncologia Clínica do Real Hospital Português (Recife-PE)